quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Poema sobre o Rio

RIO, porque sou feliz!

Poema de Abian M. Laginestra



Como posso falar de ti cidade paraíso?
Na noite cálida de uma cidade que aparenta não ter desânimos
Descanso minha mente nas pedras do Arpoador,
Contemplo o morro do Vidigal,
De longe ao som do mar,
Parece-me uma jóia de topázios e cristais.
Resplandecendo ao gosto da maresia depositada
Pelas ondas que acariciam você por inteira.
Única em suas formas.
Cidade que de tudo tem,
Somente as coisas chatas é que vós não herdastes.
Talvez porque aqui, num passado distante,
Tenha sido o verdadeiro Olimpio.
Motivo pelo qual, tenha sido criada com tamanho carinho e benevolência.
Em todos os pontos és magnífica.
Têm baía e restinga,
Possui uma linda e grande floresta,
Sobrevivente tenaz entre o seu glamour e entre a sua decadência,
Entre a sua riqueza e a sua pobreza
Foste engendrada para ser um eterno bebê,
Protegida pelas mesmas montanhas que fazem o teu berço.
Como se não bastasse tens um gigante deitado a te guardares.
De todos os pontos ostentas a sua furtiva beleza.
Até mesmo de dentro da Baía insiste em ter tudo,
Principalmente o que causa cobiça a todas as outras grandes como você.
Seja na Avenida Brasil ou seja na Vieira Souto,
sempre há algo para inebriar o espírito.
Num botequim qualquer na zona norte afrouxo minha gravata.
e esqueço os credores numa conversa que não tem pretensão de nada.
Num passeio no alto da boa vista pára meu carro,
Apenas para dar um grito no ar um pouco gélido.
No alto do Sumaré espio a vida de cá e de lá.
Na Barra passeio de bicicleta até o recreio.
Numa vã tentativa de captar toda a cidade.
Da pedra da Gávea tenho o mundo aos meus pés.
Em Guaratiba delicio-me com pescados e afins.
Já no domingo, balburdia no Maracanã,
alegria e tristeza entre os gols do campeonato.
Num feriadão, escolher entre a serra, as lagoas ou o mar.
Enfim essa é você.
Aonde e unicamente ternos e calções de banho convivem muito bem em qualquer dia mais quente no fim da tarde.
Rio de Verão, de Janeiro a Janeiro

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Com um dedo na estrada




Semana que vem, se tudo correr bem, estarei embarcando para o Rio de Janeiro depois de 14 anos de ausência.
A primeira vez que fui ao RJ era tão pequena que nem lembro.
A segunda, eu já era maior, uma criança de uns 8 anos e La pelo meio da viagem fiquei doente e minha mãe teve que voltar comigo às pressas.
Depois disto, acho que fui ao RJ em 1987, com minha amiga Silvia Wolff, a “baba” dela a Maroca e a minha mãe Zeca.
Silvia e eu, fanáticas da dança, tínhamos conhecido o professor da Escola do Municipal Emilio Martins e convencemos nossas famílias a irem conosco para uma temporada de aulas de ballet. Foi uma viagem e tanto e dela guardo inúmeras memórias.
Ficamos hospedadas num apart-hotel na rua Barata Ribeiro, bem no coração de Copacabana. De manhã, a mãe nos levava ate a Lapa para fazer aula com o Emilio Martins e de tarde a gente variava de estúdios e professores. Fizemos aulas com as lendárias Eugenia Fedorova (uma russa baixinha e gordinha, parecia a vó Saba) e com a outra russa e furiosa Tatiana Leskova, que no melhor estilo dos professores de ballet tradicionais, gostava de humilhar as bailarinas (não lembro bem o que aconteceu, mas tenho a vaga sensação que fiquei algumas horas chorando no chuveiro por conta desta aula). Eu sempre fui muito exigente e competitiva. Lidar com criticas e com a visão de tantas bailarinas melhores do que eu era algo que provocava sofrimento.
Mas, La pelas tantas, descobrimos o Studio 3, da Nora Esteves, onde fizemos aula com um jovem bailarino chamado... (bah, esqueci...). Mas lembro perfeitamente dele e de sua aula, bem dançante, leve, alegre. Nesta aula, consegui relaxar do stress exigido da técnica do ballet clássico e finalmente pus meu corpo a serviço da dança! Sensação boa, sentir o corpo se movendo sem medo, estimulado por um professor que enxergava meus atributos de forma não conservadora!
Depois desta viagem, voltei ainda diversas vezes ao RJ, uma cidade que faz parte da minha vida e que semana que vem irei ter o prazer de reencontrar!

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Rafael, o Tutuli


Exatamente há 12 anos nascia o meu sobrinho Rafael.

Era um domingo ensolarado de inverno, acordei com os gritos da minha mãe sob a janela do meu quarto: “nasceu, nasceu”!!!

A primeira vez que o vi foi através do vidro da maternidade do Hospital Moinhos de Vento. Ele estava no colo do seu pai, Fernando.

O meu pai já estava la quando chegamos e ele comentava que o Rafael tinha o nariz de “pardal”, ou seja, um bom narizinho iidish!

Não sei precisar direito o que senti naquele primeiro encontro... Foi como se por alguns segundos o tempo parasse e só existisse aquela criaturinha tão pequena no mundo. Um forte sentimento de amor, de “ele é sangue do meu sangue”, se apoderou de mim. Não nasceu do meu ventre, mas do da minha irmã caçula, que eu me lembro de ter ido visitar no hospital no dia em que nasceu. É a vida andando e gerando novas vidas, novas existências, clichê ou não, é um milagre.

Rafael hoje faz 12 anos e é um dos meninos mais doces que já conheci. Tem uma sensibilidade transbordante, só não vê quem não quer. Tem olhos meigos, mãos bem branquinhas e dedos longos. Quando era nenê, eu o fazia dormir ao som de Frank Sinatra. Depois já mais grandinho, participava intensamente das minhas atividades artísticas, principalmente durante a “Era BU”. Eu ouso dizer que tem alma de artista, e mesmo que não se torne um, tem potencial para. E isso digo por já ter dividido o palco com ele durante uma dance Jam session em 2006 durante o II Encontro Meme.

Tudo que quero e desejo para o meu amado sobrinho é nada menos do que muito amor e felicidade. Que a vida lhe seja generosa e cheia de aventuras bacanas, muitos amigos, viagens, um futuro cheio de vida, aprendizados, batalhas vencidas, lições aprendidas.

E que eu esteja sempre por perto, para continuar acompanhando essa linda vida que começou há exatos 12 anos!

Parabens meu doce!

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Declaração


Eu te amo
Palavras que jorram da minha boca
Diretamente do meu coração.

Eu te amo.
E te amo com os pés no chão.
Paixão de mais de 4 anos.

Sim, eu te amo.
Acredita no que digo.
Tu és o meu melhor amigo,
Aquele que quero para mim.

Seu teimoso, eu te amo!
Preciso gritar bem alto para me fazer escutar?
Tanto amor que tenho
Não quer calar.

Diga sim, eu te amo também.
E dos pés no chão podemos ir juntos a lua.
Na garupa da tua moto,
Pelas estradas, pelas curvas...

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Chegada em Paris 2005 - anotações

Arrival in Paris - July 25th

Breakfast with Miguel. He helped me out with the backpack to the station.
Au revoir Charlê! Merci Beaucoup et a bientôt!


Arrived at Gare d'est, took train 4 to Denfert Rochereau, 14th arrondissement. Walked up rue Daguerre. Very nice, lots of restaurants + cafes.

Met Branka, my hostess from hospitality.club.
Walked til Jardin de Luxembourg. 6th arrondissement. Beautiful. Montparnasse. Av. Raspail.
Crazy stories: the russian mom and daughter who travelled 6000km.
Immigration interview, guy speaking Russian.
Next day - July 26th
Fomos para aula de tai chi. À direita, um pedaço da Torre Eiffel, à esquerda, a Pont Neuf. À frente, o Sena e uma parte da Notre Dame. Pessoas as mais variadas, o camembert gritando solto, feliz da vida. Depois, caminhada nas margens do Sena, muitos barcos, turistas, coisas do Bresil. Almoço por 15 euros e 40 cents (2 pessoas), sanduíches. Ela é muito legal.
Penso no Rene. Hoje faz 2 semanas que ele se foi. Não quero esperar contato, mas espero. Eu deveria estar com ele, mas estou sozinha. Em Paris. Ai quem me escreve é o sweet Miguel. Penso nele mas de outra forma. Amizade e carinho. Tô preocupada com a situação de quinta. Preciso achar um lugar para ficar. Na Branka somente ate quinta. Preciso achar o Etienne. 
Caminhada a tarde. St. Germain-des-pres, St.Sulpice Church. People in the streets, lovers, friends, families.
I feel lonely.
Bomb threat in front of the building.
Sometimes I hate him to death.......
21 de julho de 2010 – como é bom re-escrever com o distanciamento do tempo e relembrar sem dor. Passou!

sábado, 5 de junho de 2010

Pensamentos


Estas são as mudanças da alma. Eu não acredito em envelhecimento. Eu acredito em alterar para sempre o aspecto de alguém para a luz. Eis o meu otimismo.”

Virginia Woolf



Hoje li esta frase e ela me fez pensar. Como se eu não pensasse o suficiente. Minha madrinha costumava me dizer que para uma “criança” eu pensava demais. Ou então, como dizem: Quem pensa demais não casa.
Vai ver é verdade pois ainda não casei. Pelo menos não oficialmente, mas esta é uma outra historia.

A frase da Virginia Woolf bateu em algo que vem me instigando ultimamente. No que crer quando muitas das coisas nas quais acreditávamos com toda a nossa alma simplesmente caem por terra? Sou eu uma otimista ou uma pessimista (pergunta que Carrie Bradshaw se faz em um dos episódios de Sex and the City)? Ser otimista significa ter fe? Mas fe em que exatamente?

A todo instante, a vida nos da provas que qualquer sensação de segurança é a mais pura ilusão. Um amor que dura anos pode do nada virar... lembranças e lembranças não te abraçam durante uma fria noite gaucha. Ainda bem que tenho os meus gatos.. Família, saúde, trabalho, tudo pode mudar do dia para a noite, e se não tivermos um eixo forte, a casa cai.

Uma das exceções a esta regra são as amizades. Experiência própria, bons amigos, perto ou longe, são constantes e te seguem ao longo da vida. Um pouco de chão nessa corda bamba. Amigos do peito, aqueles que te conhecem do avesso, todas as tuas fraquezas e mesmo assim, te aceitam e riem da tua desgraça contigo. Tenho ótimos amigos. Um motivo afinal para ser otimista!

Talvez o grande lance seja mesmo essa caminhada em direção a luz. LUZ. Primeira palavra que eu disse quando era bebê. Eu sabia que ia adorar um palco. E palco sem luz não tem muita graça. E todas as nossas experiências, positivas ou negativas, sejam apenas degraus de aprendizado. Talvez o sofrimento seja também algo a ser superado. Caminhamos como o personagem Dante na Divina Comedia, do Inferno ao Céu? Ou estamos sempre alternando céu e inferno?

Eu hoje tenho cordas internas que me ajudam a segurar a barra. Antes elas mais me enforcavam que ajudavam. E assim seguimos todos em direção.... Mãos vazias, coração cheio de.......... Como eu queria ser mais........... ou menos........ Eu bato no peito com força e injeto animo, um passo depois o outro, se for dançando tanto melhor.
Eu sou uma otimista. Mesmo quando no inferno.

domingo, 9 de maio de 2010

Domingo em Moscovo


                                        A vida colorida, 1907




“O Sol derrete toda a cidade de Moscovo, reduzindo-a a uma mancha que, tal como uma trombeta, põe todo o interior, toda a alma em vibração. Não, não é esta uniformidade vermelha o momento mais belo! É apenas o acorde final da sinfonia que confere a cada cor o paroxismo da vida, que faz ressoar e que arrebata toda a cidade de Moscovo como o fortíssimo de uma orquestra gigantesca.”

Wassily Kandinsky

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Nasceu! Meme Santo de Casa Estação Cultural


Na véspera, Roda de Danças Circulares com a Patrícia Preiss! Acendemos velas, fizemos os nossos pedidos e intenções e dançamos em volta do fogo.
Caminhos abertos, corações emocionados e ansiosos, o dia 29 de abril, que celebra a dança, foi perfeito para preparar nossos espíritos para a inauguração da nova casa do Meme, do nosso novo lar!




Meme Santo de Casa Estação Cultural!


Abre suas portas em 30 de abril de 2010.
Mas na verdade, viemos de mais longe, nossa data retorna a 2004.
Caminhos traçados, batalhas vencidas. Tenho tido muitas duvidas ultimamente, mas acredito 100 por cento na capacidade da dança em modificar vidas, pois a dança me salva todos os dias (sei, soa clichê, mas é verdade).
Acredito no Meme como projeto e filosofia e acredito nos amigos e parceiros que fiz durante estes 6 anos.
Parabéns a toda a equipe e a todos os que nos ajudaram nesta empreitada!



                               Jana de Goiânia com Laco e Tiago.



s

terça-feira, 20 de abril de 2010

Em dias assim - Cafe Parte II

Hoje o dia virou completamente. Depois de muito sol e calor, abri a janela e vi as nuvens e a chuva. Uma boa pedida para um cafezinho, um não... Dois, três, quem sabe quatro..
Mas ontem, estava mal do estomago, com náuseas e aconteceu algo que raramente ocorre e que me deixa sempre de certa forma perplexa: não consegui degustar o meu café com prazer.. Tomei porque sou teimosa, ou por força do habito, mas meu organismo rejeitava cada gole, provocando em mim uma certa tristeza por estar renegando tão bom amigo.
Em toda minha vida, tive dois momentos em que fui obrigada a abrir mão do café.
A primeira vez foi em Paris. Tive uma overdose. Serio. Naquela época, eu devia tomar umas 5 canecas de café preto sem açúcar, manhã, tarde ou noite.
Foi justamente durante o "petit déjeuner" que senti o primeiro sintoma da overdose: o cheiro do café me deu engulhos. No albergue onde eu me hospedava, os cafés eram tomados a moda francesa: em tigelas e com leite. Passados alguns minutos, o café ficava de morno para frio. Só lembro-me de meu corpo recusando-se ao segundo gole. Insisti. Pas possible. Não era mais possível. Tristeza muito profunda. Fiquei algumas semanas apartada do meu companheiro, ele me chamava e eu precisava ser forte e dizer... ainda não.
A overdose passou e aos poucos retomei o habito. Confesso que nunca mais foi a mesma coisa. Comecei a evitar café muito forte à noite. Às vezes é preciso fazer concessões em prol da boa convivência.
A segunda vez foi mais recentemente. Tive uma ulcera no estomago. Dores lancinantes me comiam por dentro. Passei noites me contorcendo no chão, ate descobrir o meu problema. 
Estava sentada na frente do medico quando ouvi as temíveis palavras: 3 meses sem refrigerante, álcool e café.
O queeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee? 3 meses?You gotta be kidding! Como ir dar minhas aulas de inglês sem o meu copinho de café? Ou pior, como acordar sem a costumeira injeção de animo?
Não tive escolha. Parei. 3 meses. Substitui por chá. Cortei o refri para sempre de minha vida. Acostumei. Passei carnaval em Gamboa sem uma gota de álcool. A gente agüenta tudo. 
Fui forte e resisti. Pode ser clichê, mas é verdade: saúde em primeiro lugar. 
Fiz o tratamento, nova endoscopia, tudo ok. Liberada!
Comemorei com um copinho de plástico com o café da maquininha da Procergs. Nada muito glamoroso, mas extremamente cheio de prazer! Welcome back my friend!

domingo, 11 de abril de 2010

Meu amor, o café – Parte I



Em uma vida permeada por grandes paixões, seria quase lugar-comum chamar o meu apreço pelo café como paixão. Pois eu sou naturalmente uma pessoa apaixonada.
Mas a minha historia com o café é bonita, tem constância (coisa que muitas paixões não têm) e vem me acompanhando desde os idos tempos de Colégio Israelita, mais especificamente, semana de provas do “cientifico” (hoje ensino médio), ainda mais localmente: casa da minha amiga Silvia Wolff, na quase descidinha da Mostardeiro. Quem é de Porto Alegre sabe de onde estou falando.
Muito ocupadas que éramos com as aulas de ballet e ensaios, pouco tempo nos sobrava para estudar para as temidas provas. Alem de ocupadas, tremendamente pretensiosas, pois deixávamos todo estudo para a noite anterior ao teste.
Eu ia para a casa da Silvia, que era uma espécie de segundo lar para mim, a gente comia alguma coisinha rápida, preparada pela “nossa” baba Maroca e depois, rumo ao gabinete do pai dela para passar a noite em claro estudando. Sim, a noite inteira, em cima dos livros, revisando a matéria de um semestre. Como agüentar tudo isso? Só mesmo com uma térmica cheia de CAFÉ!!! Café preto, sem açúcar, foi assim que aprendi e comecei a tomar esse liquido precioso sem o qual minhas manhãs ficam vazias como um balão murchinho....

Sempre neuróticas com o peso, o fator “sem açúcar” era essencial. Ali se deu inicio um habito que me acompanha há 20 anos (ai credo). Também a minha amizade com a Silvia segue firme e forte. Nossa paixão (de novo, a madame paixão) pela dança foi o que nos uniu, o café abençoou e o resto contarei nos próximos capítulos.
Ah, sempre passamos nas provas. E muito bem. Modéstia a parte, uma noite para nos era o tempo suficiente de estudo. O resto, era só dança!






domingo, 28 de março de 2010

Celebrando Pessach


Este sempre foi uma das minhas festas favoritas. Sendo filha de mãe católica e pai judeu, cresci comemorando as festas e os feriados de ambas culturas.
Ontem foi mais uma noite de Seder de Pessach, com a familia sentada em torno da mesa da casa da vó Saba, repetindo o mesmo ritual de todos os anos: as brachot (rezas das velas e do vinho), a explicação dos símbolos (osso, ovo, raiz forte, etc) a leitura da Hagada (o livro que conta a história da saga de Moisés e como este liderou os judeus para fora da escravidão do Egito e caminhou com eles durante 40 anos pelo deserto até avistar Canaã, a Terra Prometida), as canções e, é claro, a comilança típica de toda boa mesa iidish!
Numa ponta da mesa, a minha avó Saba, de quase 99 anos, e na outra os meus dois sobrinhos Rafael e Felipe, vestindo cada um a sua kipa (o chapeuzinho judaico) e lendo textos sobre a festa. Ambos estudam no Colégio Israelita e portanto estão tendo contato com a cultura judaica, levando adiante a tradição.
Ser judeu é algo que às vezes foge das palavras. Ser judeu é algo que existe dentro do coração, uma força de identificação que nos une com a nossa familia, um lastro indestrutível de mais de 5.000 anos de história. É um calor no peito, uma sensação de pertencer a algo valioso, uma marca que carregarei para sempre e com orgulho dentro de mim.
Pessach é uma festa divertida, tem gosto de Matzá e o som de Simcha Raba, a música que celebra a chegada da primavera no hemisfério norte.
Para mim, é a lembrança do vô Saul abrindo a porta para o profeta Eliau Hanavi, é a mesa farta, as brincadeiras, a confraternização com minha familia que tanto amo.
Pessach celebra a liberdade. Bem maior de um povo, bem maior de uma nação!

Chag Sameach! Boas Festas!

terça-feira, 16 de março de 2010

Poesias de Março III - Cecilia Meireles



Meu Sonho

Parei as águas do meu sonho
para teu rosto se mirar.
Mas só a sombra dos meus olhos
ficou por cima, a procurar...
Os pássaros da madrugada
não têm coragem de cantar,
vendo o meu sonho interminável
e a esperança do meu olhar.
Procurei-te em vão pela terra,
perto do céu, por sobre o mar.
Se não chegas nem pelo sonho,
por que insisto em te imaginar?
Quando vierem fechar meus olhos,
talvez não se deixem fechar.
Talvez pensem que o tempo volta,
e que vens, se o tempo voltar.

domingo, 7 de março de 2010

Poesia de Março II - Clarice Lispector




"Escrevo por não ter nada a fazer no mundo: sobrei e não há lugar para mim na terra dos homens. Escrevo porque sou um desesperado e estou cansado, não suporto mais a rotina de me ser e se não fosse  a sempre novidade que é escrever, eu me morreria simbolicamente todos os dias. Mas preparado estou para sair discretamente pela saída da porta dos fundos. Experimentei quase tudo, inclusive a paixão e o seu desespero. E agora só quereria ter o que eu tivesse sido e não fui."

Clarice Lispector em A Hora da Estrela

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Da série: Poemas de Março I - Hilda Hist

"Lembra-te que há um querer doloroso
 E de fastio a quem chamam de amor.
 E outro de tulipas e espelhos
 Licencioso, indigno, a que chamam desejo.
 Não caminhar um descaminho, arrastar-se
 Em direção aos ventos, aos açoites
 E um único extraordinário turbilhão.
 Por que me queres sempre nos espelhos
 Naquele descaminhar, no pó dos impossíveis
 Se só me quero viva nas tuas veias?"

Antologia: Do Desejo
Hilda Hist

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Arroio Dilúvio - Fotos do Cotidiano

Todo dia que vou trabalhar atravesso a pequena ponte que me leva para o outro lado da Avenida Ipiranga em Porto Alegre. 
Sob a ponte, o Arroio Dilúvio, assim chamado porque em dias de chuva forte costumava inundar os bairros vizinhos na década de 50, quando ainda tinha águas limpas. Díficil imaginar. Hoje em dia recebe 50 mil metros cúbicos de resíduos e serve de esgoto para três bairros. Tem de tudo ali dentro, até cadáver de cavalo boiando eu já vi. Em dia de temporal há correnteza forte, ele enche, mas nunca vi ultrapassar a sua borda. Embaixo de suas pontes vivem moradores de rua. 
A espuma suja. A poluição é tão evidente que infelizmente a gente acostuma. 
Todo dia eu atravesso a ponte e tento imaginar águas límpidas...



 





 



 
fotos: Fernanda Stein

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Invictus: Reconciliação e Inspiração

Há eventos históricos que lemos nos livros. Há outros que vivenciamos e que um dia contaremos aos netos. Esses momentos deixam marcas na memória. Sou capaz de lembrar como se fosse ontem o dia em que assisti na TV Mandela saindo da prisão, depois de 27 anos de confinamento na África do Sul. Era fevereiro de 1990 e eu estava na casa de minha vó Wanda em Florianópolis de férias.
Quatro anos depois, abril de 1994, em meio a um grupo de animados sul-africanos, eu participava de um churrasco no terraço da International House em Nova York em celebração à eleição de Nelson Mandela como presidente de seu país. Fiquei contaminada pelo entusiasmo daquele povo oprimido por tantos e tantos anos e emocionada em ver tanto os brancos e negros sul-africanos dançando juntos no território neutro da Big Apple.

Para fugir do calor abrasante de Porto Alegre fui ao cinema ver "Invictus", com direção de Clint Eastwood e com Morgan Freeman interpretando Nelson Mandela.
Em ano de Copa do Mundo de futebol pela primeira vez em continente africano, parece bastante propício falar de esporte e narrar um evento desconhecido por grande parte das pessoas: a Copa do Mundo de Rugby na África do Sul em 1995. Nós brasileiros não temos contato algum com esse esporte que é mania nacional em vários países: Austrália, Nova Zelandia e na própria Africa do Sul, onde o time leva o nome de "Springboks" e tem as cores verde e dourado.
Pois bem, Nelson Mandela, recém empossado presidente, tem nas mãos a dificil tarefa de conduzir um país dividido não só racialmente como também economicamente. Ao invés de promover uma política de revanche com os brancos outrora opressores e que o mantiveram preso por quase 30 anos, ele propõe uma política de "reconciliação", onde a África do Sul é um país para brancos e negros. No esporte ele enxerga a possibilidade de começar a juntar os cacos de uma nação destruída pelo Apartheid.

Mandela é para mim o símbolo de um grande homem, talvez a personalidade pública viva que eu mais admire. Assim como Gandhi ele liderou seu povo às mudanças usando o caminho da paz. 
Mais do que uma lenda viva, um ídolo, Nelson Mandela é uma inspiração.
No filme ele entrega ao capitão do time de rugby um poema que diz ter sido sua inspiração durante os anos de prisão. Fui atrás desse poema com a esperança de que também a mim ele dê forças quando o dia parece perdido. Pois todos temos o nosso Apartheid pessoal e cotidiano contra qual lutar, seja ele de que tamanho for.

Out of the night that covers me,
Black as the pit from pole to pole,
I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.

In the fell clutch of circumstance
I have not winced nor cried aloud.
Under the bludgeonings of chance
My head is bloody, but unbowed.

Beyond this place of wrath and tears
Looms but the Horror of the shade,
And yet the menace of the years
Finds and shall find me unafraid.

It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll,
I am the master of my fate:
I am the captain of my soul.


by William Ernest Henley

domingo, 24 de janeiro de 2010

Meu sobrinho Felipe



Ontem estava voltando da praia de carona com minha irmã Didi e meu cunhado Eduardo. Marco e eu fomos passar um dia em Tramandaí com minha mãe e a famila do seu namorado, Zildo.
De Tramandaí até Porto Alegre uma hora e meia de viagem, talvez um pouco menos.
Sentamos no banco de trás e entre nós meu sobrinho de 6 anos, Felipe.


Juro que fazia tempo não me divertia tanto. Durante praticamente toda viagem estivemos diante de um "show-boy" para comediante algum colocar defeito. A fala dele vinha rápida e sagaz, comentários e "histórias" se misturavam a um humor inocentemente infantil que por vezes nos deixava sem chão, sem teto, sem saber como replicar. Tudo muito ligeiro, autêntico, ele dizia que seu cérebro lhe falava coisas e que ele simplesmente reproduzia, falava das "pintas cabeludas" de alguns membros da familia (sorry, mas não vou citar nomes para não criar constrangimentos), um monólogo que parecia ser ensaiado e talvez se fosse não seria tão bom.




As frases vertiam de dentro dele. Pediu a carteira à mãe, contava o dinheiro, diz que quer ser rico. Insistiu em fazer negócios com o Marco, queria porque queria marcar encontro para hoje, para comprar uma casa e depois alugar. Na carteira tem 25 dólares que ganhou e não gasta pois "adoro guardar dinheiro", na palavras dele...Será que é herdeiro do vô Saul e sangue do meu sangue? Quando pequena, também eu gostava de guardar moedinhas, seduzida pela ideia de um dia ser tão rica quanto Tio Patinhas.

Felipe não cansa, canta. Canta em inglês, acompanha com desenvoltura as palavras da canção.Os adultos riem, mas ele não. Ele está cantando e apenas isso, o momento dedicado de corpo e alma para aquela ação.

As crianças tem tanto a nos ensinar...

Fico pensando nessa energia que parece sem fim, que cansa pais e afins mas que tem tanta riqueza, tanta expressão. Como canalizar, como ensinar sem castrar, como estimular esse espírito tão vivo e sedento em direção saudável e bacana, para que se torne um adulto menos neurótico e mais feliz?

E em contrapartida, como resgatar em nós essa alegria e espontaneidade?



Felipe me lembrou o personagem das tiras em quadrinhos Calvin. Até a mesma idade eles têm.
Sou fã de Calvin há muitos anos e ontem, me tornei uma tia-fã declarada, com vontade de maior tempo de convivência, para acompanhar de perto o andar desta pequena-grande figuraça, meu sobrinho Felipe!

domingo, 17 de janeiro de 2010

Divagações sobre a Era do Excesso ou a Era do Vazio





Ultimamente, tenho tido pequenas falhas de memória. Uma palavra que fica na ponta da língua, o nome de algum ator que está ali no filme e não consigo lembrar, uma informação dita pelo meu namorado que eu simplesmente deleto ao escutar. Comecei a ficar ansiosa. Não tenho 20 anos mas também não estou em idade para desenvolver uma doença como Alzheimer, aliás doença essa que acometeu o meu saudoso vô Saul quando ele tinha 88 anos.
Minha memória sempre foi acima da média, ou pelo menos, nunca tive dificuldade em lembrar das coisas. As provas de biologia no colégio eram um deleite, pois com extrema facilidade eu retinha todos aqueles nomes complicados e me saía super bem. Nomes de filmes, diretores, atores e atrizes, barbada! Sentar numa roda de amigos e ficar falando de cinema sempre foi prazeroso e um exercício natural das minhas habilidades de memória. Quando semana passada não conseguia lembrar o nome do Jeff Daniels, gelei.


Foi então que me deparei com um artigo na ótima revista da cultura, uma publicação da livraria cultura. Neste artigo de Ronaldo Bressane, intitulado "Era da Imoderação", encontrei um bom rumo para as minhas dúvidas.
Numa época de excesso de informações, conexões, expectativas, demandas e novidades, como lidar com tudo isso e administrar o nosso tempo num dia que continua tendo as mesmas 24 horas? Como separar os momentos de trabalhos e os de lazer quando se está "conectado" todo o tempo, preocupado em postar nos blogs, estar a par dos acontecimentos locais e mundiais, assistir a todos os filmes lançados e  também aqueles que ficaram para trás? Minha pilha de livros na mesinha de cabeceira só cresce. Tenho que ler livros teóricos e ao mesmo tempo me cobro a defasagem de literatura clássica, já li Tolstoi, mas não li Doistoievski .Tenho  de dar conta das minhas aulas como professora e para isso preciso estar equipada com as tecnologias do momento, preciso saber o que se passa no mundo. Tenho que comer de forma saudável, andar de bike para fazer exercicio, não matar as aulas e os ensaios de dança, achar tempo para as inumeras reuniões, ah sim e uma brecha para visitar a minha vó de 98 anos! Heeeelp!
Percebi que estou sofrendo de TDAH - Transtorno do deficit de atenção e hiperatividade e, diz o artigo, a desatenção leva à propalada síndrome da falta de memória! Bingo!!!!!
"Um dos sintomas é a hiperatividade, que envolve inquietação, dificuldade de permancer sentado."
O que fazer então?


Me recuso a recorrer aos remédios tão em moda hoje em dia. Nada contra. Mas fiz 10 anos de análise e eles me ajudaram a perceber que tenho subsidios internos para segurar a minha onda. Não quero me amortecer. Quero sentir e lidar com as sensações, aprender com elas, mesmo que tenham um preço. É claro que tem vezes que dá uma mega vontade de tomar uma ritalina e acalmar o coração. Fico curiosa para saber como seria "viver medicada" , mas seja por convicção ou por preconceito, resisto aos fármacos.
Então, me resta procurar outras formas de desacelerar e me tornar menos ansiosa. Cultivar o ócio sem a pressão de fazer dele algo producente. Sentar na minha área de serviço e ficar quieta observando os meus 3 gatos brincarem. Respirar. Dançar mais e mais. Andar de bike, assim como faz o músico David Byrne, que no livro Diários de bicicleta fala que encontrou seu nirvana no prosaico uso da bike.



Eu quero! Quero poder tirar os dedos da tomada de vez em quando. Quero alternar os modos on e off sem culpa. Achar o meu nirvana.Não ter mais úlcera. E se por ventura eu esquecer algum nome ou alguma palavra.... Bom... Que jogue a primeira pedra aquele que nunca esqueceu!

domingo, 10 de janeiro de 2010

Novo membro da Familia


No dia 26 de dezembro de 2009, um calor danado em Porto Alegre, resolvi pegar a bike e ir até o Parque da Redenção queimar as calorias do Natal. Meio-dia, sol queimando a cuca, pedalei da minha casa até o parque através das ruas vazias.
Dei uma volta inteira no parque e estava pronta para voltar para casa quando resolvi pedalar mais um pouco, só que desta vez faria um percurso menor, cortando por dentro do parque.
Passando o Café do Lago, parei num local onde tem vários gatos abandonados. Sempre gosto de ficar ali, olhando aqueles tantos gatos de cores e pelagens tão distintas.
Desta vez, entretanto, havia um gatinho muito pequeno no meio dos maiores. Meu olho parou imediatamente naquela coisinha pequena e preta, parada embaixo de um banco, sozinho.
Desci da bike e para minha surpresa, a coisinha minúscula veio caminhando na minha direção. Atravessou entre os gatos maiores, passou pelas grades e veio parar na palma da minha mão.
Levei a mão ao peito, ele grudou as patinhas na minha blusa e começou a ronronar. Acho que ali, já não tinha mais volta. Precisava levá-lo para casa, cuidar dele, dar carinho e atenção. No passado, eu nem mesmo teria parado ali. Não teria me comovido com o gatinho bebê entregue a sua própria sorte. Animais não mexiam comigo. Eu tinha medo, uma certa aversão até. Mas eu mudei. E naquele quente dia de dezembro, eu não poderia deixá-lo para trás. No minimo, teria levado a uma pet shop.
Mas ele veio aqui para a minha casa e hoje já está curado da inflamação no intestino que lhe fazia ter uma diarreia terrível. Engordou 100 gramas e já convive com as minhas gatas Minnie e Fifi. Dorme ainda num cômodo isolado, a adaptação de felino é feita de forma gradativa, o cheiro da casa se modifica com a chegada de um novo gato e leva um tempo até que se reequilibra.
Chico é quietinho e obediente. Tem apetite e muita sede. Sede de viver, que o fez sair da inércia e ir atrás de ajuda, de colo, de um lar. E eu, que nem sonhava com mais um gato, fico feliz e meu coração se enche de alegria quando o vejo em segurança e saudável.

ps - Ah, esqueci de dizer: o nome dessa coisinha fofa é Chico, em homenagem ao grande homem Francisco de Assis, protetor dos animais!

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Teresinhas - Destaque no Jornal do Comércio



                                             Foto de Ana Meinhardt


Teatro e dança são os destaques no ano
Antônio Hohlfeldt – Jornal do Comércio 24/12/09

A temporada teatral do ano que se encerra teve uma movimentação muito boa, levando-se em conta o ano de crise econômico-financeira que o País enfrentou. Mantivemos as atrações tradicionais, como o Porto Verão Alegre e o Porto Alegre em Cena, no que toca à Capital gaúcha. A cidade de Canela garantiu seu calendário com os dois festivais tradicionais - o de teatro e o de teatro de bonecos -, e o conjunto de atrações que visitou a cidade de Porto Alegre ou que aqui foi produzido chega a surpreender. Se o Porto Verão Alegre foi bastante decepcionante pelo excesso de reprises que apresentou, o Porto Alegre em Cena atingiu plenamente seus objetivos, trazendo alguns dos trabalhos mais significativos produzidos na ribalta mundial.

Mas a cidade assistiu também a grupos do interior, como ocorreu logo no início da temporada, com o grupo coreográfico de Suzana Schoellkopf e Márcio Barreto. Também de fora, mas do centro do País, recebemos, ainda em março, o belo trabalho A alma boa de Setsuan. O mês ficaria marcado, contudo, pela estreia de Teresinhas, um dos trabalhos de dança mais bonitos de toda a temporada e que valeu ainda pela gravação de um DVD inesquecível. O trabalho do Grupo Meme, dirigido por Paulo Guimarães, chegou como quem não queria nada e encantou a todos.