domingo, 17 de janeiro de 2010

Divagações sobre a Era do Excesso ou a Era do Vazio





Ultimamente, tenho tido pequenas falhas de memória. Uma palavra que fica na ponta da língua, o nome de algum ator que está ali no filme e não consigo lembrar, uma informação dita pelo meu namorado que eu simplesmente deleto ao escutar. Comecei a ficar ansiosa. Não tenho 20 anos mas também não estou em idade para desenvolver uma doença como Alzheimer, aliás doença essa que acometeu o meu saudoso vô Saul quando ele tinha 88 anos.
Minha memória sempre foi acima da média, ou pelo menos, nunca tive dificuldade em lembrar das coisas. As provas de biologia no colégio eram um deleite, pois com extrema facilidade eu retinha todos aqueles nomes complicados e me saía super bem. Nomes de filmes, diretores, atores e atrizes, barbada! Sentar numa roda de amigos e ficar falando de cinema sempre foi prazeroso e um exercício natural das minhas habilidades de memória. Quando semana passada não conseguia lembrar o nome do Jeff Daniels, gelei.


Foi então que me deparei com um artigo na ótima revista da cultura, uma publicação da livraria cultura. Neste artigo de Ronaldo Bressane, intitulado "Era da Imoderação", encontrei um bom rumo para as minhas dúvidas.
Numa época de excesso de informações, conexões, expectativas, demandas e novidades, como lidar com tudo isso e administrar o nosso tempo num dia que continua tendo as mesmas 24 horas? Como separar os momentos de trabalhos e os de lazer quando se está "conectado" todo o tempo, preocupado em postar nos blogs, estar a par dos acontecimentos locais e mundiais, assistir a todos os filmes lançados e  também aqueles que ficaram para trás? Minha pilha de livros na mesinha de cabeceira só cresce. Tenho que ler livros teóricos e ao mesmo tempo me cobro a defasagem de literatura clássica, já li Tolstoi, mas não li Doistoievski .Tenho  de dar conta das minhas aulas como professora e para isso preciso estar equipada com as tecnologias do momento, preciso saber o que se passa no mundo. Tenho que comer de forma saudável, andar de bike para fazer exercicio, não matar as aulas e os ensaios de dança, achar tempo para as inumeras reuniões, ah sim e uma brecha para visitar a minha vó de 98 anos! Heeeelp!
Percebi que estou sofrendo de TDAH - Transtorno do deficit de atenção e hiperatividade e, diz o artigo, a desatenção leva à propalada síndrome da falta de memória! Bingo!!!!!
"Um dos sintomas é a hiperatividade, que envolve inquietação, dificuldade de permancer sentado."
O que fazer então?


Me recuso a recorrer aos remédios tão em moda hoje em dia. Nada contra. Mas fiz 10 anos de análise e eles me ajudaram a perceber que tenho subsidios internos para segurar a minha onda. Não quero me amortecer. Quero sentir e lidar com as sensações, aprender com elas, mesmo que tenham um preço. É claro que tem vezes que dá uma mega vontade de tomar uma ritalina e acalmar o coração. Fico curiosa para saber como seria "viver medicada" , mas seja por convicção ou por preconceito, resisto aos fármacos.
Então, me resta procurar outras formas de desacelerar e me tornar menos ansiosa. Cultivar o ócio sem a pressão de fazer dele algo producente. Sentar na minha área de serviço e ficar quieta observando os meus 3 gatos brincarem. Respirar. Dançar mais e mais. Andar de bike, assim como faz o músico David Byrne, que no livro Diários de bicicleta fala que encontrou seu nirvana no prosaico uso da bike.



Eu quero! Quero poder tirar os dedos da tomada de vez em quando. Quero alternar os modos on e off sem culpa. Achar o meu nirvana.Não ter mais úlcera. E se por ventura eu esquecer algum nome ou alguma palavra.... Bom... Que jogue a primeira pedra aquele que nunca esqueceu!

6 comentários:

Unknown disse...

Dear Nanda,

Você externou um sentimento que acredito ser quase universal, ao menos no ocidente... Sinto-me assim diariamente... mas também acredito que você encontrou a chave, ou seja, administrar nosso tempo para fazer tudo, inclusive, fazer nada de vez em quando!

Belíssimo post, parabéns!

Beijo,

Claudia

Unknown disse...

Pode ter certeza que tem milhoes de pessoas contigo nessa, acho que de tao comum ja e normal( bom ja e outra historia) ficar assim. Relaxa...bjssss

Unknown disse...

Por pura coincidencia este fim de semana estava justamente pensando sobre isto. Pensando , pensando e repensando tomei a decisão não vou fazer o curso de mascaras... não vou encher todas as noites da minha semana durante 15 dias e não me dar o direito de deixar tempo livre para meus impulsos momentaneos. Sei que vou perder um otimo curso mas a vida é feita de perdas e ganhos ...

Unknown disse...

Belo texto...
Parabéns!

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Oi Nanda,

O Blog Mosaicos do Sul faz sua primeira promoção, em comemoração ao aniversário de 6 meses. O Prêmio é o livro 1000 Lugares para conhecer antes de morrer. Passa lá e participa!

Abraço,

Cacau
www.mosaicosdosul.blogspot.com