domingo, 28 de março de 2010

Celebrando Pessach


Este sempre foi uma das minhas festas favoritas. Sendo filha de mãe católica e pai judeu, cresci comemorando as festas e os feriados de ambas culturas.
Ontem foi mais uma noite de Seder de Pessach, com a familia sentada em torno da mesa da casa da vó Saba, repetindo o mesmo ritual de todos os anos: as brachot (rezas das velas e do vinho), a explicação dos símbolos (osso, ovo, raiz forte, etc) a leitura da Hagada (o livro que conta a história da saga de Moisés e como este liderou os judeus para fora da escravidão do Egito e caminhou com eles durante 40 anos pelo deserto até avistar Canaã, a Terra Prometida), as canções e, é claro, a comilança típica de toda boa mesa iidish!
Numa ponta da mesa, a minha avó Saba, de quase 99 anos, e na outra os meus dois sobrinhos Rafael e Felipe, vestindo cada um a sua kipa (o chapeuzinho judaico) e lendo textos sobre a festa. Ambos estudam no Colégio Israelita e portanto estão tendo contato com a cultura judaica, levando adiante a tradição.
Ser judeu é algo que às vezes foge das palavras. Ser judeu é algo que existe dentro do coração, uma força de identificação que nos une com a nossa familia, um lastro indestrutível de mais de 5.000 anos de história. É um calor no peito, uma sensação de pertencer a algo valioso, uma marca que carregarei para sempre e com orgulho dentro de mim.
Pessach é uma festa divertida, tem gosto de Matzá e o som de Simcha Raba, a música que celebra a chegada da primavera no hemisfério norte.
Para mim, é a lembrança do vô Saul abrindo a porta para o profeta Eliau Hanavi, é a mesa farta, as brincadeiras, a confraternização com minha familia que tanto amo.
Pessach celebra a liberdade. Bem maior de um povo, bem maior de uma nação!

Chag Sameach! Boas Festas!

terça-feira, 16 de março de 2010

Poesias de Março III - Cecilia Meireles



Meu Sonho

Parei as águas do meu sonho
para teu rosto se mirar.
Mas só a sombra dos meus olhos
ficou por cima, a procurar...
Os pássaros da madrugada
não têm coragem de cantar,
vendo o meu sonho interminável
e a esperança do meu olhar.
Procurei-te em vão pela terra,
perto do céu, por sobre o mar.
Se não chegas nem pelo sonho,
por que insisto em te imaginar?
Quando vierem fechar meus olhos,
talvez não se deixem fechar.
Talvez pensem que o tempo volta,
e que vens, se o tempo voltar.

domingo, 7 de março de 2010

Poesia de Março II - Clarice Lispector




"Escrevo por não ter nada a fazer no mundo: sobrei e não há lugar para mim na terra dos homens. Escrevo porque sou um desesperado e estou cansado, não suporto mais a rotina de me ser e se não fosse  a sempre novidade que é escrever, eu me morreria simbolicamente todos os dias. Mas preparado estou para sair discretamente pela saída da porta dos fundos. Experimentei quase tudo, inclusive a paixão e o seu desespero. E agora só quereria ter o que eu tivesse sido e não fui."

Clarice Lispector em A Hora da Estrela